Friday, July 25, 2008

Amazônia, o novo faroeste brasileiro


Índios, cientistas, fazendeiros, políticos, estrangeiros. A Amazônia hoje é alvo de disputa de muitos significados ideológicos. Desmatamento, tráfico da fauna e flora, biopirataria, grilagem e o Tio Sam, assim como outras potências mundiais, de olho no patrimônio nacional: são alguns dos vários problemas que causam polêmica e muita briga nessa área.

O debate acendeu e aumentou em torno da funcionalidade e do papel da Amazônia diante esses diversos atores sociais porque o governo federal está implantando políticas de demarcação e de terras para controlar e fiscalizar a área. E é claro que quem se sentirá “ofendido” com as medidas são os agentes envolvidos em agronegócios, pecuária, além das empresas transnacionais, que querem por si só dar um destino à região, defendendo seus interesses de negócios, claro. O problema é que esses agentes querem explorar a área de forma predatória e sem compromisso nenhum com a soberania nacional, agricultura, energia, educação, ciência, tecnologia e inovação voltadas à proteção e desenvolvimento sustentável da região amazônica. A questão ambiental fica em segundo plano e importa o fato apenas da geração de valor econômico com a ocupação predatória. E haja esforço por parte do governo pra fiscalizar o uso ilegal das terras por parte desses atores, fisacalização que ainda é pouca!

É importante deixar claro que a oposição contra os abusos ambientais e humanos da produção agro-pecuária predatória não é uma oposição à agricultura em si. A produção agrícola precisa se constituir em desenvolvimento real, sustentável e durável. E não é o que acontece: o Brasil explora recursos naturais desde 1500 e ainda somos sub-desenvolvidos em relação a outras nações que transformaram suas atividades econômicas em desenvolvimento social real. E outra coisa: não podemos desconsiderar o descaso e o abuso contra os povos indígenas brasileiros. Deve haver respeito, sim à cultura e as terras dos povos originários - um direito reconhecido em todo o mundo. E o aumento da população indígena é um bom sinal de que a demarcação de terras por parte do governo na luta pelo direito dos índios vem tendo resultados.



Na minha concepção, e não só na minha, a pecuária precisa bater as botas na Amazônia. É o que afirma o historiador ambiental José Augusto Pádua, no artigo que li, e concordo. É mais apropriada para biomas mais abertos, como caatinga, cerrado e pampa. Isso também porque as propriedades que não são de domínio do Estado ficam muito mais vulneráveis ao narcotráfico.
Outro fator que ameaça a Amazônia é a questão das privatizações (36% das terras amazônicas estão privatizadas!), que tiram o poder de controle de Estado e abrem uma margem enorme para a grilagem. E aí engana-se quem defende que a solução então é internacionalizar de uma vez a Amazônia, torná-la “patrimônio mundial” (quanta boa vontade!). Não é preciso de muita esperteza pra perceber o quanto é falacioso e mentiroso a “boa intenção” das potências capitalistas. Primeiro, porque as empresas que privatizaram não são nacionais, são transnacionais e olha que belezinha, vêm patenteando medicamentos e plantas locais. Em segundo lugar, a pressão pela internacionalização da Amazônia nunca teve intenções ecológicas, como os defensores alienados pensam. Uma prova disso? Ora, veja os países do G8: não aceitam de modo algum pagar a conta da poluição ambiental.

Há aqueles que acham um exagero pensar na possibilidade de ações ofensivas do imperialismo. Porém, as ofensas são reais sim e até históricas. Lembremos da Cabanagem, movimento militarizado de cunho separatista; das operaçõe da Hiléia – organização internacional formada por diversos países com o objetivo de “administrar” o território amazônico e do Bolivian Sindicate – que foi contra a criação de um Estado a serviço do imperialismo.

Entre tanta polêmica e disputa, algo muito importante pra quem tem a cabeça no lugar deve ser relacionado à Amazônia: o desenvolvimento científico, que visa um salto econômico só que atrelado ao conhecimento. E como pesquisadora, é claro que irei ficar do lado da promoção do desenvolvimento sustentável da região amazônica, através do trabalho científico. E tudo isso respeitando as reservas e cultura indígenas.

Ocupar cientificamente a Amazônia: pra mim, é o caminho que evita o caos nesse lugar, que não visa agredir o meio ambiente e contribui para a promoção da igualdade social e da sustentabilidade ambiental. Assim, é necessário um novo planejamento para a implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, e essa sustentabilidade, que vejo que ainda é um termo muito extenso, precisa ser melhor encaminhado, focado. E o Brasil investe muito pouco em pesquisa nessa área, e isso endica que muito ainad pode e deve ser feito, recursos humanos não faltam e o estímulo à pesquisa na área ambiental têm sido de grande demanda. Vamos dar um salto para o futuro e mostrar que os brasileiros sabem cuidar e muito bem de um dos patrimônios mais lindos que a natureza pôde nos presentear.

Wednesday, June 25, 2008

Teatro Mágico no 2º Ato: inquetude em contestar aspectos sociais

Novas referências musicais, criticidade aflorada, performance mais ensaiada: as novidades que tornam o Teatro mais mágico ainda

Quando digo que gosto de Teatro Mágico, as pessoas que não conhecem se deparam diante de mim com uma postura “entendível”. Afinal, o que é Teatro Mágico? Banda independente? Música poética? Palhaços fazendo malabarismos, cantando e dançando? Mas por que e para quê?

Quem já ouviu alguma música do Teatro Mágico, desacostumado com letras “incomuns”, o que é difícil de encontrar na cotidiana mídia de massa, se incomoda com suas mensagens implícitas a ponto de amar o grupo sem mesmo conseguir interpretar o que a banda quer dizer. Onde está, então, o poder de sedução do Teatro Mágico?

Da boca de Fernando Anitelli, músico, ator, compositor e criador dessa banda independente, a forma de musicalidade do Teatro Mágico descreve cada ato, cada sensação, experiência de vida e vivência através de palavras. As palavras formam frases, e as frases formam poemas. “Teatro Mágico nos diz pra sermos versáteis. Escritores, atores, malabaristas, poetas, protagonistas, palhaços, figurantes, trapezistas, cantores, dançarinos, tudo junto”, diz Anitelli. Ele ressalta que o primeiro álbum tinha por objetivo realçar a essência única de cada pessoa no mundo, descobrir, em cada um, o melhor e o pior de seu ser, sentir e valorizar sua unicidade no universo, de ser raro, e daí veio o “slogan” do primeiro CD: “Teatro Mágico, Entrada para Raros”.

O improviso em seus shows, característica marcante do grupo, reflete um roteiro imaginário, uma maneira improvisada de viver a vida e de sobreviver a ela.

Novo embalo

Letras mais maduras, cenas mais ensaiadas, união do circo e da música cada vez mais constante. Com mais de 85 mil cds vendidos, o grupo agora aposta todas suas energias em seu segundo álbum e espetáculo, o “2º Ato”.

Considerado o melhor show da atualidade pelo jornal Folha de S. Paulo, o espetáculo do Teatro Mágico envolve construções poéticas nas músicas, encenações teatrais improvisadas ou não, ludicidade, mistura de arte cirquense com música e interação com o público, que é composto em sua maioria por jovens universitários. “Um dos fatores que contribuíram para o nosso sucesso foi o comportamento curioso específico desse público”, esclarece Anitelli.

As composições escolhidas do novo álbum trazem reflexões sobre o homem e a sociedade na qual vive, através de uma postura mais contestadora. Relatam o cotidiano dos moradores de rua na canção “Cidadão de Papelão”, abordam problemáticas da mecanização do trabalho, citada no “Mérito e o Monstro”. Na canção “Xanel N 5", o grupo critica o amontoado de informações que absorvemos ao assistir aos programas de TV.

Segundo um dos compositores e vilonista em peso do Teatro Mágico, Luís Galdino, todo esse trabalho foi permitido e condicionado graças a uma agenda mais folgada, que resultou numa musicalidade mais madura. Galdino conta que o principal diferencial do novo álbum são as novas referências da MPB e do samba, de performances do Circo Soleil e da preocupação em fazer uma música que traga à tona problemas sociais. “O improviso é algo marcante nos espetáculos do primeiro CD e a partir de agora os espetáculos terão uma performance mais ensaiada, mas sem perder a espontaneidade”, informa.

Galdino realça que o Teatro Mágico, como banda independente, decidiu descartar a possibilidade de se integrar ao mainstream musical, com uma grande gravadora, uma grande assessoria de imprensa, uma grande produtora. O músico comenta que ser independente pode ser uma forma alternativa sem precisar de jabás pra divulgar um trabalho. “Ser independente é você arriscar. É uma única alternativa que um grupo imenso de artistas têm para aparecer”, afirma. “A gente não tinha como chegar numa grande gravadora, pois elas são fechadas em seu casting de 12 artistas, que ocupam toda a mídia através de um jabá absurdo. Ser independente é questionar tudo isso com atitude de fazer seu trabalho e alcançar o público”, salienta Galdino.

E na batalha para divulgar o trabalho, Galdino destaca com importância o uso das tecnologias digitais, como a internet, para movimentar e disseminar a cultura independente. “Nosso reconhecimento diante o público, a divulgação do trabalho, só foi possível através da internet. Há uns seis, sete anos atrás, somente com o rádio e a TV embutidas na comunicação de massa, essa visibilidade era impossível. A internet é um meio de fácil acesso e também com grande poder de massa”, diz.

O grupo continua com os mesmos esquemas de distribuição das músicas: de maneira livre e gratuita na internet e na venda de Cds a preços populares. A novidade é o investimento grande na produção e comercialização dos fonogramas. Galdino realça a importância da grande participação do público em sites de relacionamentos como orkut, youtube e outras mídias da rede, que favorece a bandeira da música livre e a forma democrática de fazer cultura.

Realmente, o Teatro é MÁGICO, e só sentindo de perto pra confirmar tanta criatividade, inovação e compromisso com o público!

http://www.oteatromagico.mus.br/ - Entre e baixe músicas!

Sunday, April 01, 2007

Brasileiro, quem és tu?


E a pátria que Deus nos deu,
Possamos dizer contentes:
Tudo isto que vejo é meu!
Meu este sol que me aclara,
Minha esta brisa, estes céus:
Estas praias, bosques, fontes,
Eu os conheço — são meus!
Mais os amo quando volte,
Pois do que por fora vi,
A mais querer minha terra,
E minha gente aprendi.
(Gonçalves Dias - Minha Terra)


Cultura brasileira: uma lenda? Uma mistura de culturas? Uma cultura totalmente desenraizada? São muitas afirmações polêmicas que tentam definir a cultura brasileira. Quem é o brasileiro? Simplesmente uma mistura de raças, religiões, rituais? Há uma cultura autêntica que podemos chamar de brasileira?

O Brasil, em tempos coloniais, sempre serviu como fonte de riquezas para a Coroa Portuguesa. Com a existência do império brasileiro, o país ficou sob o domínio de um pequeno grupo de pessoas que impuseram aqui sua cultura e seu modelo de sociedade. A independência corresponde a uma articulação de elites, não esteve ligada a um movimento nacional. Portanto, a independência representou uma fixação da cultura estrangeira e a certeza de sua imposição: língua, costumes, literatura. Tudo vindo da Europa.

Ainda hoje a classes mais abastadas se inspiram nos models burgueses e norte-americanos, esquecendo-se da cultura genuinamente brasileira. O que acontece é que a nossa imagem se projeta lá fora como um povo "copião", que não valoriza sua própria cultura e, sendo assim, precisa copiar outras. E assim o país vai, aos poucos, perdendo respeito, perdendo sua originalidade.

Pra se ter uma idéia, com a dominação européia, muitos valores culturais que aqui existiam foram diluídos e hoje já estão em extinção. Quando se fala em cultura e povo brasileiro é importante voltar a atenção para a cultura indígena. Sim, é nela que está raiz da cultura brasileira, destruída com o tempo e com a imposição estrangeira.

Nossa cultura é variada, rica. É preciso conhecer a diversidade, os hábitos típicos, tradicionais, de raiz.

Os povos que aqui viviam tinham uma percepção bem diferente dos europeus em relação ao trabalho, à terra e aos seus semelhantes.

Os nativos viviam em sistemas nômades, respeitavam a natureza, enquanto os europeus vinham para lucrar com ela. Engraçado que há certas linhas que defendem os europeus como povos tecnicamente e cientificamente mais avançados do que os povos nativos. É bom fazer essa afirmação com cuidado, contextualizando o ambiente de cada povo. Os europeus se desenvolveram não porque eram melhores ou mais inteligentes que os índios, e sim, pela necessidade de sobrevivência, tendo em vista que na Europa a natureza não era tão farta como aqui. Por causa desse motivo, os índios pouco se preocuparam em desenvolver técnicas mais avançadas pois não tinham necessidade.

Outra diferença cutural é que os índios viviam em tribos nas quais tomavam decisões de acordo com o que a maioria da tribo desejava. Na Europa, eram os reis que tinham o poder e decidiam fazer as coisas conforme seus próprios interesses. Além disso, nas tribos indígenas não havia desigualdade social, ricos nem pobres, todos eram iguais.

Os europeus não souberam aceitar essas particuliaridades da cultura autenticamente brasileira, forçando os nativos a se converter na religião, hábitos, costumes e valores da Europa que nada tinham a ver com os povos que aqui habitavam.

Os povos que aqui viviam tinham uma percepção bem diferente dos europeus em relação ao trabalho, à terra e aos seus semelhantes
Vejam, eu não pretendo defender a cultura do índio nem a do europeu como melhores ou piores. São culturas diferentes, com seus próprios valores. Entretanto, sou contra a hegemonia de valores - impor valores de determinada civilização a outra. Não há como provar que a cultura do Ocidente é melhor que a do Oriente, por exemplo. Não acho que a tecnologia e ciência impostas pelo Ocidente sejam motivos para impor a tão famosa globalização. O Oriente pode não ter a teconologia nem a ciência, mas sabem valorizar muito mais o meio ambiente e a natureza do que nós. Os valores precisam se complementar, se ajudarem, e não competir entre si.

Porém, nós, com tanto apelo pela homogeinização da cultura imposta pela globalização, sabemos identificar com clareza as caracteríticas da nossa cultura? Onde está a cultura autêntica do nosso país? No sudeste? no nordeste ou mesmo na Amazônia? Onde estão os verdadeiros brasileiros e quais são seus costumes?

Para responder estes questionamentos, precisamos conhecer o Brasil para definir uma identidade como nação. A cultura indígena, mesmo que destruída, ainda tenta sobreviver. Mas, com a vinda de outros povos, outras novas manifestações do povo brasileiro começaram a surgir. Nossa cultura é variada, rica. É preciso conhecer a diversidade, os hábitos típicos, tradicionais, de raiz. Precisamos defender nossa cultura como patrimônio, a qual ainda tenta sobreviver e mater seus laços originais, num mundo cada vez mais homôgeneo pela Coca-Cola e Mc'Donalds.

Sunday, March 18, 2007

Mídia e comunidade


"É preciso fortalecer os meios de comunicação alternativos e as cooperativas de jornalistas. Agora sou mandatário, com um conjunto da sociedade brasileira que se reúne aqui no Ceará, e eu vou participar desse debate. Quando a gente discute democratização dos meios de comunicação, os que têm o monopólio disso vão sempre inventar que isso é autoritário, vão sempre querer desqualificar que isso é controle. Não. É preciso incentivar
dramaticamente os meios de comunicação alternativos, fortalecer cooperativa de jornalistas, financiar e, nisso, conceder canais de televisão"

Ciro Gomes, deputado federal (PSB)


Quantas oportunidades e possibilidades que os meios de comunicação, se estivessem livres da mediocricidade do marketing comercial, teriam no campo comunitário, cultural e educativo. Principalmente veículos como rádio e televisão, meio públicos e mais acessíveis a analfabetos, por exemplo. A questão de a mídia insistir em ser produto à venda é um grande obstáculo para a democracia.

Porém, o buraco é bem mais lá embaixo. Além do caráter comercial, o sistema de radiodifusão público dispõe de grande controle por grupos minoritários., que detém grande parte das concessões públicas. São partidos políticos, igrejas e famílias com grande poder político e econômico (como a família Sarney) que formam o "coronelismo midíatico" e comandam emissorasde rádio e TV. Isso quer dizer o quê? Que o conteúdo de grande parte desses canais que você ouve e assiste são formulados por pensamentos que se adequam a certas opiniões e interesses desses grupos.

Para citar exemplos, o PMDB (cruz credo!) é campeão disparado de parlamentares detentores de concessão: são 12 deputados estaduais, 13 federais e sete senadores. Logo atrás, vêm o PFL (coisa feia da mamãe) e o PSDB (livrai-me Senhor), com 12 e oito estaduais, nove e dez federais e nove e seis senadores, respectivamente.

No campo religioso, podemos citar a Igreja Universal como detentora da Rede Record de televisão. No dia 21 de fevereiro, foi noticiada a venda das Rádios Guaíba AM, FM e da TV Guaíba, da Empresa Jornalística Caldas Jr., para a Igreja Universal. Essa venda se traduz em redução dos custos, o que significa empobrecer ao máximo a oferta de conteúdo regional, como lembra Celso Schröder, coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas. Ele teme que a Igreja Universal imponha o seu "pensamento único" nas transmissões. Esses controles dificultam e muito a proliferação de rádios e televisões mais democráticas e educativas, livres de interesses políticos e econômicos. Mídia comunitária é sinônimo de serviço de utilidade pública, tem função educativa e combate a um único modelo hegemônico de mídias audiovisuais.

Como podemos perceber, tudo corre ao contrário da democracia. Enquanto empresas cada vez mais tem a sua voz multiplicada, as emissoras locais, como as Rádios e TVs Comunitárias continuam sofrendo com a repressão. Uma matéria do Fantástico, a pouco tempo, reforçou a ignorância do público ao chamar de "rádios piratas" os canais comunitários de rádio.

O termo rádio pirata surgiu na ditadura, quando os militares queriam calar a voz da população e censurar todos os programas de radio e TV. Assim, alguns intelectuais, estudantes montavam rádios clandestinas para que a população escutasse certas verdades e lutassem pela democracia. E quem se beneficiou das rádios pitaras na época foi o povo brasileiro. A rádio "pirata" foi um excelente instrumento contra a ditadura, porque as emissoras de rádio e TV da época apoiavam os militares e graças à luta das rádios comunitárias elas existem hoje e é uma pena que não são reconhecidas devidamente.

"Através do rádio, por exemplo, podemos fornecer educação gratuita, de baixo custo e de qualidade. E isso pode chegar em zonas rurais nas quais a educação é precoce"


As rádios comunitárias continuam regidas por uma lei segregacionista. A atividade permanece reprimida embora de forma gritantemente assimétrica em relação a dezenas de concessionários da radiodifusão comercial que há anos funcionam precariamente, sem a renovação de suas outorgas. Ou seja, grande parte da mídia comercial fere às leis e códigos civis e não são reprimidas; já as rádios e Tvs comunitárias que têm compromisso com a lei de serviço à comunidade, sofrem repressão constante da Anatel e da Polícia Federal. São emissoras comunitárias que já existiam e prestavam serviço público de qualidade às suas comunidades antes da Lei 9612/98; que desde então tentam se legalizar. Têm seu trabalho reconhecido – e até premiado – por instituições públicas brasileiras e internacionais.

Enquanto isso, estima-se que cerca de 60% das quase 4.000 rádios comunitárias legalizadas são controladas por entidades que fazem proselitismo político e/ou religioso, afrontando o interesse público, e mais de 13 mil processos de novas outorgas aguardam julgamento no Ministério das Comunicações. As promessas democratizadoras da digitalização da radiodifusão alimentadas pelo decreto 4901/2003, que criou o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) – e tinha como objetivos, dentre outros, a democratização da informação, a promoção da diversidade cultural, o desenvolvimento da indústria e tecnologia nacionais, a inclusão social e a participação da sociedade civil – foram diluídas na escolha do padrão tecnológico ISDB japonês, que contraria toda essa promoção social e cultural. Hoje, o próprio Ministério Público Federal move ação na Justiça contra essa hegemonia do padrão japonês.

A mídia independente se associa a pluralidade de opiniões e a horizontalidade de opiniões e informações. O rádio, que possibilita baixo custo e programações diversificadas, exerce uma maior incidência na vida diária das pessoas, tanto em zonas urbanas quanto rurais. Vejamos: devido à facilidade de acesso, à ampla cobertura e à flexibilidade, o rádio oferece inúmeras possibilidades para a educação à distância, no desenvolvimento de programas de educação formal e não formal. Olha só que preciosidade de possibilidadedes criativas de crescimento educacional temos num veículo como o rádio. Podemos fornecer educação gratuita, de baixo custo e de qualidade. E isso pode chegar em zonas rurais nas quais a educação é precoce.

"A mídia independente se associa a pluralidade de opiniões e a horizontalidade de opiniões e informações"

Porém, a mídia comercial se opõe ser parceira da educação e também é obstáculo para o crescimento da mídia comunitária. Se queremos um Brasil mais igual, precisamos diminuir as diferenças de acesso à educação das classes mais altas em relação às mais baixas. O problema é que, como a mídia comercial é controlada por classes altas, e os interesses destas são de manter as classes mais baixas sobre desamparo cultural, tecnológico e educacional, a progressão no campo de mídias comunitárias será bem difícil. Por isso, em meu ponto de vista, as mídias comercias precisam, através da lei, perder o seu caráter de concessão para se tornar, realmente, do público, regida pelo público e por pessoas que têm como objetivo fazer uma mídia voltada para todas as classes sociais, sem exceção.

Hoje, o conteúdo transmitido pela mídia apenas reforça o ideal de massa consumidora, burra, despolitizada. Se queremos uma mídia mais justa... vamos começar a defender a democratização das mídias, as rádios e Tvs comunitárias que lutam arduamente pelo seu reconhecimento e legalização! FORA HÉLIO COSTA DO MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES!!!!!!!!


Leia mais! http://www.frenteradiotvdigitaldemocratica.org/

Sunday, March 11, 2007

O pop é pobre?


LEGENDA FOTO: o cantor de música pop: uma boca muito grande e uma cabeça muito pequena.





Confesso que copiei o título do programa da MTV, "Tribunal de Pequenas Causas Musicais". Mas não poderia ser outro, já que o título resume o que quero expressar. Um debate. Uma resenha crítica, que analise esse fenômeno do pop. E, claro, que as indagações aqui nos façam refletir sobre esse estilo musical que mistura cultura, história, política e representa muito bem o que passa e o que é a sociedade hoje.
Bem, falando de pop, vou especificá-lo no post: música pop. A cultura pop, sendo que pop quer dizer popular, não está só na música, mas no cinema, no livro, na televisão, no jogo de vídeo-game. msa aqui falerei da música pop, que pode ser útil em outras vertentes do popular.
A música pop é uma ferramenta para se entender o mundo que nos cerca. Ela reflete a sociedade de sua época. Não são apenas melodias e idéias. A crítica deve (ria) estar atenta a isso.

Primeiramente, vamos delimitar a origem da cultura popular. Ela veio de termos " pop art" ou "popular art". O pop art foi movimento que se iniciou na Ingleterra por volta dos anos 50 e não siginfica uma arte feita pelo povo, como muitos pensam, e sim, feita e produzida para o consumo de massa.

Por que discutir isso? Bem, a música pop, hoje, está em qualquer lugar e influencia a vida de muitas pessoas. Música pop não é só da Britney Spears, é o sertanejo do cantor Daniel, o rock nacional do Skank, o axé do Babado Novo e por aí vai.

Queria discutir esse tema pois a música pop representa uma época em que as perdas de valores e identidade do público, o vício consumista e a veneração da "vida feliz" estão acontecendo cotidianamente. E a música pop dá voz a esse momento social.

O pop é uma variante da publicidade, consumismo desenfreado. Música tem a ver com poder, pois passa mensagens, mostra os sentimentos e até mesmo conscientiza pessoas sobre problemas sociais, além de formar opinião. A música é o código universal e o elo entre todos os grupos sociais, crenças, raças e religiões. Deve ser um trabalho artístico, muito bem elaborado. E um trabalho artístico de qualidade representa conteúdo, informação, conhecimento, serviço do bem comum e do saber ao público. Se música é tudo isso, a música pop encarrega-se de fazer esse papel? E aí que está o problema. A música pop é vazia em conteúdo, é um culto industrializado de banalidades. Os itens culturais que requerem grande experiência, treino e reflexão dificilmente são para o consumo popular.

A cultura pop, além de surgir na Inglaterra, surge no momento em que o modelo tecno-capitalista começa a criar estratégias para maximizar seus lucros. Ou seja, quanto maior for a admissão de um produto cultural pela grande massa, melhor ele é, do ponto de vista lucrativo e mercadológico. O produto "bom", nesse sentido, precisa enfatizar itens que agradem a gregos e troianos, para atingir a padronização dos gostos. Ou seja, todo mundo gosta de batata-frita. Mas será que a batata-frita é boa para a saúde? A batata-frita banaliza a saúde, e a música pop? Banaliza e retarda nossa consciência cultural. Pop é desnutrição para a mente.

"Lazer e entretenimento, podem, sim, estar ligados à educação"


Então, ao "apreciarmos" a música pop, será que a mesma não tem apenas o fútil desejo de nos consumir? Já dizia um professor meu - "não é você que consome. Os produtos que consomem você". Se pararmos pra pensar que toda essa indústria que nos solta músicas pop são, na verdade, formas implícitas de lucro, será que vale a pena deixar se envolver por essa indústria da "filosofia do agradável" e do sensacionalismo?

O pop, no sentido geral, faz a propaganda da vida feliz. Dificilmente uma música pop retrata algum tema social ou relevante para as pessoas. Todas tratam superficialmente de temas como amor, ódio, sexo, diversão. O mundo é mil maravilhas para o pop. Esse estilo músical inibe a população de reivindicar os direitos e discutir política através da música. Ora. Será que o lazer precisa estar dentro dessa ótica educativa e política? Sim. O lazer não precisa estar ligado ao vazio moral. O lazer, deve sim, se apoiar em objetivos educacionais, por que não? Esse pensamento de que o lazer precisa ser um entretenimento evasivo e relaxante é argumento muito mal feito dos detentores da indústria cultural. Claro, assim, pra eles, fica fácil fazer um produto porcaria, de fácil assimilação, ganhar milhões e "divertir" o povo, como se música fosse circo.

Mas peraí. A crítica deve contextualizar com o que vive a sociedade. Como eu disse no início, a perda de valores caracteriza hoje nossa sociedade, de uma maneira global. E por quê? Por causa do desencantamento dos povos com a política, com o modo de viver em geral. E as pessoas, dentro desse desânimo cotidiano precisam extravasar suas magoás. E a música pop serve de analgésico. Serve para uma amor mal entendido, pra relaxar as 8 ou 10 horas por dia trabalhadas sacrificadamente. E, ao mesmo, tempo, afasta as pessoas de uma tomada de consciência. A tomada de consciência de que a música pop é produzida por uma indústria que tenta administrar nossos gostos e hábitos para dar segmento a padrões de consumo. E claro. Nos tornar mais idiotas e medíocres.

SIM, o pop É POBRE. Os modelos musicais se esvaziam cada vez mais. O rock, que na época de seu surgimento foi feito para evidenciar as lutas políticas e o descontentamento do povo, hoje é mais um modelo de "pagode disfarçado", que repete inúmeras vezes a mesma ladainha. O rap, que surge na voz dos excluídos, hoje serve cada vez mais para incentivar a violência. O sertanejo, que insiste em disvincular suas raízes de músicas que contavam pequenas histórias do sertão e do povo humilde, para cantar a dor de corno. O funk, que incentiva a sexualidade precoce e desrespeita comportamentos morais. A música romântica, que deixou de ser poesia para virar baixaria. A mulher, na música, é vista como objeto de exploração sexual. O homem, um animal. A música pop xinga, humilha, banaliza. E o povo compra, assiste, se subordina.

As pessoas realmente perdem sua entidade e se tornam objetos de fácil manipulação. Somos obrigados a dançar Bonde do Tigrão, gritar com Avirl Lavigne, chorar com Zezé Di Camargo e Luciano,assim como Sandy e Júnior. Música sem criatividade, sem informação. E depois não adianta reclamar muito que a educação anda ruim no país. Como educar com uma série de "inimigos" ao saber e ao conhecimento? A criança e o adolescente saem da escola com uma visão de mundo que contradiz o que é valorizado be feito lá fora. "- Estuda meu filho, pra você um dia ficar rico", diz o pai ao filho. Mas o filho responde: "- Pai, isso é o que a minha professora diz. Mas nem a Carla Perez e a Ivete Sangalo precisaram estudar pra ficarem ricas".

E aí? Essa contradição cultural faz com que, cada vez mais, nos percamos. Porque os objetivos educacionais e culturais distanciam-se do que o modelo político economico prega: consumo, lazer, lucro, consumo, lazer, lucro.


"Na música pop, prazer, imagem e beleza se sobrepõem ao conteúdo, informação e transformação"


Eu não vou dizer que não escuto música pop. Sim, escuto. Porque também estou dentro dessa sociedade desacreditada, e sou uma pessoa que, francamente, me deixo seduzir pela propaganda de vida feliz cosntituída pelo pop. Mas tenho consciência de que a música pop é usada para manter o domínio elitista econômico sobre a massa. Ouvindo bastante música da Kelly Key, quem vai crescer e mudar de vida? Ninguém. E é assim que o capitalismo "selvagem" quer. Manter alguns privelegiados no topo do poder e controle e uma grande massa alienada e manipulada por esses privilegiados.

Não acho a Ivete Sangalo uma merda, e nem acho que partir de agora temos que começar a ouvir somente Bethoveen. Não é assim. Mas as pessoas precisam começar a valorizar menos a cultura massiva, pra dar espaço para o que presta entrar em cena. E descobrir prazer nisso. Essa mentalidade de que o que vale na vida é curtição de produtos vazis não é verdade. Ouvir Bethoveen pode trazer uma prazer muito melhor e maior do que ouvir "Abalou". Porque quem ouve "Abalou" continua sendo a mesma pessoa. Quem ouve Bethoveen, ou mesmo Led Zeppelin, Jimi Hendrix, um jazz, e entende seu significado, passa por uma transformação. A maturidade cresce, a tomada de consciência também. E isso é muito bom. É como tomar um banho e tirar a sujeira do corpo. E nos sentimos bem melhores. A mudança é pra vida toda. "Abalou" é uma sensção efêmera, imediata. Você não sentirá mudança.

Por isso, eu acho que a valorização da cena artística-musical deve começar a ser questionada nesse sentido. A música deve trazer conhecimento, transformação, nos tornar pessoas moralmente e eticamente melhores, e não piores. A música pop tem regredido as pessoas nesse sentido. O Charlie Bronw Jr. só serviu para deixar jovens mais violentos e respondões; o techno incentiva o uso de drogas em danceterias; o funk eu não preciso dizer mais nada, o pagode serviu pra promover o bumbum da Carla Perez e as carinhas bonitas (por que será que o mais bonito da banda de pagode é o vocalista????)

Que engraçado. Muita coisa evolui no nosso mundo, como a medicina. Mas a música tem um cronograma histórico de regressão. Está na hora da sociedade começar a redefinir valores e se encontrar. Começar a usar a música como instrumento criativo de expressão. Somos capazes, porque não somos receptores passivos. Temos o poder de responder ao que a indústria cultural impõe. Só assim, podemos dar as mãos para a educação e construir um consumo e lazer construtivos e críticos, no sentido de nos tornarmos pessoa melhores.











.... essa é a sensação de vazio do pop....
Quer ver exemplos de músicas dedicadas ao consumo popular mas que despertam senso crítico e passam informações?
Acesse as músicas - "Carta aos missionários" e "Múmias" - do grupo BIQUINI CAVADÃO.

Friday, December 15, 2006

Língua Portuguesa e a cultura brasileira




"A LÍNGUA É A MAIS VIVA EXPRESSÃO DA NACIONALIDADE. COMO HAVEMOS DE QUERER QUE RESPEITEM A NOSSA NACIONALIDADE, SE SOMOS OS PRIMEIROS A DESCUIDAR DAQUILO QUE A EXPRIME E REPRESENTA O IDIOMA PÁTRIO?"

As pessoas têm uma uma visão muito errada a respeito da nossa língua. Há aqueles que resumem nossa língua brasileira em um amontoado de regras gramaticais, aquelas fórmulas "mágicas" para passar em vestibular ou concurso, como se nossa língua servisse apenas para aprender a gramática normativa. Que pena. Nossa língua tem um sentido tão mais profundo, amplo e belo do que as pessoas podem imaginar. Infelizmente, a maioria das pessoas têm essa visão porque no decorrer de seu estudo escolar e acadêmico a língua portuguesa foi apresentada de maneira superficial, decorativa, regrada, ou seja, chata. Os professores precisam repensar na prática didática do ensino da língua.

Nossa língua tem uma riqueza social e cultural jamais vista. Primeiro, porque a linguagem não foi criada apenas para os homens se comunicarem. Ela carrega ideologias, pensamentos, histórias e muita cultura de uma determinada região. Em uma só palavra, podemos analisar diversos significados, podemos desvendar valores culturais ali embutidos. Nos dialetos, sotaques, gírias, podemos descobrir o sofrimento, a alegria, a tristeza e a dor de um povo. As palavras não existem por existir. Elas dizem muuuuito de quem nós somos e porque usamos tais palavras. Isso poucos sabem porque usam a língua de forma acrítica. As pessoas não têm senso crítico e não refletem acerca do que falam.

Vamos, por exemplo, analisar a palavra: TRABALHADOR. Há a pessoa que acredita que a língua é apenas uma necessidade de comunicação e um amontoado de letras de nosso alfabeto. Mas vamos pensar melhor, a palavra acima diz muito a respeito da nossa cultura, da nossa política, da nossa concepção de trabalho. A palavra é a junção de TRABALHO + DOR= TRABALHADOR. Hammm, olhem só, até a matemática está presente. Sim, as palavras carregam sufixos/prefixos e radicais, e quando quisermos analisar uma palvra temos que desfragmentar seus significados e depois somá-los.

Para um mundo que sempre esteve preso ao poder de classes, o trabalhador sempre foi referência para as classes mais baixas e médias, ou seja, o proletariado que trabalha para sustentar o poder aquisitivo dos empresários, executivos etc. Ou seja, o trabalhador está sempre subordinado a um trabalho exploratório que consome mais da metade de sua vida para, assim, garantir o domínio das classes mais altas. E assim, o trabalho não passa a ser algo prazeiroso, porque está ligado ao sacríficio árduo, à força, à alienação, ao cansaço, ao stress (este para o mundo atual de hoje). E não é verdade? Hoje alguém aí trabalha e tem liberdade financeira, por exemplo, independente se ganha de 350,00 a 3000,00? Liberdade de comprar uma casa, um carro, ou algo que deseje e tenha como sonho, nesse minuto? Se você é trabalhador, pode esquecer. Com certeza o discurso é: "se você quer mais dinheiro, trabalhe mais. Estude mais. Se esforce mais". E lá está você, perdendo parte de sua vida, e nem uma viagenzinha de final de ano pode você fazer, e, se pode, precisa dividir em várias vezes, pois, veja só, todo seu sacríficio ainda não te liberta do "capitalismo selvagem", que quer mais é que você se individe cada vez mais, pague mais e mais juros. Sim, você é o típico trabalhador explorado, consumido pelo trabalho, alienado e aniquilado, independente de sua área.

Quem tem esse poder financeiro e de trabalho prazeiroso é a elite que você mesmo sustenta. E que nada tem de trabalhaDOR como você. Eles passam a maior parte da vida viajando, lendo muito, adquirindo muito mais conhecimento que você (e sem precisar trabalhar como você!), visitando o mundo afora, tomando água de coco na praia em plena segundona... enquanto você, trabalhaDOR, trabalhando sacrificadamente suas 40 a 44 hrs semanais para garantir o sustento dessa elite!
Agora então sabemos porque a DOR está simbolizando o significado de trabalhador!

Vejam que interessante. De uma palavra, aprendemos história, aprendemos política e fizemos uma crítica social construtiva, que nos faz refletir um mundo tão capitalista, difícil e que nos oferece trabalhos tão subhumanos. A linguagem pode ser educativa além de seu aspecto concreto. Em sua figura, ela carrega temas abstratos, que são desafios para nós desvendarmos.

E como a linguagem pode ser um meio de expressão poderoso. Nesse sentido, acho muito bom estudá-la. Porque quanto mais você entende sua língua, mais bagagem cultural você carrega, mais poder de expressão você dispõe, mais clara e mais adequada a sua linguagem será para cada situação. O que me surpreende é a criação que poetas magnifícos que já passaram por este mundo fizeram com as palvras. As transformaram em poesia, em metáfora. Por favor, não confundam "poesias" do senso comum, aquelas que até a Kelly Key (sei lá se é assim q se escreve o nome da ordinária) faz. A poesia tem que ter o poder de provocar dúvidas. Dúvidas que irão fazer o receptor refletir, buscar explicações, pensar nas respostas, descobrir o que aquele artista quer passar com a mensagem poética. E isso é arte. Arte é quando você vê um quadro cheio de rabiscos e fala: eu também faço igual! Mas a arte, na verdade, quer confundir a sua cabeça, e não é para o mal, é para o bem: para nos tornarmos seres pensantes, dispertarmos nossa consciência adormecida e fazer valer nossa capacidade de interpretação das coisas. Um bom artista consegue fazer as pessoas pensarem e irem procurar conhecimento.

A língua é arte!!!! Rica com suas variações, seus neologismos, suas catarses e metáforas... cada palavra, a história de um povo, o significado de uma cultura! Uma construção artística, fruto de seres humanos que nascem e morrem e deixam a linguagem como principal herança para seus "herdeiros". Nossa língua deve ser mais que valorizada: ela é fruto cultural, patrimônio histórico.

E se nossa língua diz muito a respeito de nossa nacionalidade, vamos comerçar a valorizá-la mais! Acho extremamente desagradável o mundo globalizado valorizar tanto o inglês como "língua mundial oficial". Claro, acho importantíssimo aprender outras línguas, pois, assim como a nossa, há outra cultura ali, há outras histórias ali para serem analisadas. E também porque saber falar outra língua promove nossa liberdade de entrar em contato espontaneamente com outras culturas e outros povos. Porém, se não soubermos falar nossa língua direito primeiro, porque se submeter tanto a aprender outra língua como um mero modismo?

Tinha uma pedra no meio do caminho... no meio do caminho tinha uma pedra... e agora, José?

Deixo este pequeno verso de Carlos Drummond de Andrade, um de meus poetas favoritos!
Não entendeu a mensagem do verso?
Busque, procure o significado... o que você pode descobrir é fantástico!

Muitas palmas a essa encantadora arma de expressão que temos!!!!

Tuesday, November 14, 2006

De gênios para robôs



"A mente que se abre a uma nova idéia nunca voltará a seu tamanho original"
A. Einsten

Dedico este post para falar do abandono do ensino pelas disciplinas de reflexão, de questionamento e experiência da realidade, trocadas por técnicas operacionais de caráter "robótico". Pensar se tornou algo extinto do vocabulário escolar e acadêmico. Hj, o novo ensino neoliberal preza pelo "executar, produzir". Não que esteja errado. Mas para uma boa produção ser bem realizada ela precisa passar por um filtro que eu chamo de consciência filosófica. Será que a obrigação das disciplinas de filosofia e sociologia no currículo do Ensino Médio concebidas pela Lei de Diretrizes e Bases Educacionais (Resolução de ago/2006) irá conseguir compensar essa educação superficial e tecnicista exposta durante uma boa quantidade de anos?

Hoje estamos presos a uma lei de mercado que separa o pensar do agir. Antigamente, o conhecimento era buscado para resolver problemas do mundo e dos seres humanos. As ciências existiam em prol da descoberta científica, algo que fizesse do estudante um gênio, um observador constante da realidade, que descobre as coisas, que cria fórmulas para os problemas. Hoje copiamos fórmulas, sem questioná-las, sem testá-las. Apenas as aceitamos para sobreviver no mercado de trabalho. Executamos a operação, mas não somos capazes de criá-la. Não pensamos antes de agir, não gostamos de procurar o conhecimento, queremos-o pronto. Gostamos de receber as coisas prontas para apenas serem executadas. Mas não queremos pensar e desenvolver coisas novas.

Hoje não se formam mais gênios de antigamente porque nos parece que a natureza não precisa mais ser investigada. As fórmulas já estão prontas, basta copiá-las. Faço essa crítica em torno do superficial mercado de trabalho, que contrata mão de obra para executar a obra já pronta, e não para criá-la. E esse poder de criação é que nos faz gênios - o poder de interferir nas leis, nas regras e modificá-las. Descobrir as coisas do mundo, fazer perguntas, desafiar o que é imposto como verdade absoluta. Eis o mal do modernismo, que nos coloca como fantoches controlados por um sistema que não quer que pensamos, porque sem pensar não vamos questionar as coisas e assim não vamos ter vontade de mudá-las. O comodismo tomou conta de nós, porque receber as coisas prontas é mais confortável.

Hoje recebemos uma educção tecnicista pouco preocupada com a consciência filosófica e científica. Na escola, aprendemos matemática como um amontoado de fórmulas, mas não sabemos seus significados, não sabemos aplicá-las na natureza. Aprendemos biologia, mas não preservamos o meio ambiente. Aprendemos história, mas não temos opinião política do governos atual. E na faculdade não é muito diferente. São poucas as universidades que se preocupam com a formação humana e filosófica, e apenas ensinam um amontoado de técnicas operacionais. É um profissional formado não para inovar o mundo, apenas para repetir fórmulas que outros milhões de profissionais fazem igual. E essa é a diferença: o que vc já fez na ciência? O que vc contribui para o novo? O que vc modificou, questionou, criticou antes de adquirir? Realmente, o sistema inibe esse pensamento porque é mais cômodo pra ele que nada se questione, que tudo se aceite, porque assim a dominação ideológica educacional tecnicista se enraize cada vez mais.

Einsten, em relação às leis da da física: duvidou tudo o que era tido e passado como verdade inquestionável, para criar sua própria lei, a mais perto da lógica e da verdade. Talvez, ao apenas executar uma operação, ficamos longe de buscar a verdade escondida e oculta ali. Porque somos apenas robôs programados para fazer as tarefas, subordinados a um sistema que, todo dia, rege a marcha para nós, os soldados trabalhadores, que só nos resta obedecer.