Sunday, April 01, 2007

Brasileiro, quem és tu?


E a pátria que Deus nos deu,
Possamos dizer contentes:
Tudo isto que vejo é meu!
Meu este sol que me aclara,
Minha esta brisa, estes céus:
Estas praias, bosques, fontes,
Eu os conheço — são meus!
Mais os amo quando volte,
Pois do que por fora vi,
A mais querer minha terra,
E minha gente aprendi.
(Gonçalves Dias - Minha Terra)


Cultura brasileira: uma lenda? Uma mistura de culturas? Uma cultura totalmente desenraizada? São muitas afirmações polêmicas que tentam definir a cultura brasileira. Quem é o brasileiro? Simplesmente uma mistura de raças, religiões, rituais? Há uma cultura autêntica que podemos chamar de brasileira?

O Brasil, em tempos coloniais, sempre serviu como fonte de riquezas para a Coroa Portuguesa. Com a existência do império brasileiro, o país ficou sob o domínio de um pequeno grupo de pessoas que impuseram aqui sua cultura e seu modelo de sociedade. A independência corresponde a uma articulação de elites, não esteve ligada a um movimento nacional. Portanto, a independência representou uma fixação da cultura estrangeira e a certeza de sua imposição: língua, costumes, literatura. Tudo vindo da Europa.

Ainda hoje a classes mais abastadas se inspiram nos models burgueses e norte-americanos, esquecendo-se da cultura genuinamente brasileira. O que acontece é que a nossa imagem se projeta lá fora como um povo "copião", que não valoriza sua própria cultura e, sendo assim, precisa copiar outras. E assim o país vai, aos poucos, perdendo respeito, perdendo sua originalidade.

Pra se ter uma idéia, com a dominação européia, muitos valores culturais que aqui existiam foram diluídos e hoje já estão em extinção. Quando se fala em cultura e povo brasileiro é importante voltar a atenção para a cultura indígena. Sim, é nela que está raiz da cultura brasileira, destruída com o tempo e com a imposição estrangeira.

Nossa cultura é variada, rica. É preciso conhecer a diversidade, os hábitos típicos, tradicionais, de raiz.

Os povos que aqui viviam tinham uma percepção bem diferente dos europeus em relação ao trabalho, à terra e aos seus semelhantes.

Os nativos viviam em sistemas nômades, respeitavam a natureza, enquanto os europeus vinham para lucrar com ela. Engraçado que há certas linhas que defendem os europeus como povos tecnicamente e cientificamente mais avançados do que os povos nativos. É bom fazer essa afirmação com cuidado, contextualizando o ambiente de cada povo. Os europeus se desenvolveram não porque eram melhores ou mais inteligentes que os índios, e sim, pela necessidade de sobrevivência, tendo em vista que na Europa a natureza não era tão farta como aqui. Por causa desse motivo, os índios pouco se preocuparam em desenvolver técnicas mais avançadas pois não tinham necessidade.

Outra diferença cutural é que os índios viviam em tribos nas quais tomavam decisões de acordo com o que a maioria da tribo desejava. Na Europa, eram os reis que tinham o poder e decidiam fazer as coisas conforme seus próprios interesses. Além disso, nas tribos indígenas não havia desigualdade social, ricos nem pobres, todos eram iguais.

Os europeus não souberam aceitar essas particuliaridades da cultura autenticamente brasileira, forçando os nativos a se converter na religião, hábitos, costumes e valores da Europa que nada tinham a ver com os povos que aqui habitavam.

Os povos que aqui viviam tinham uma percepção bem diferente dos europeus em relação ao trabalho, à terra e aos seus semelhantes
Vejam, eu não pretendo defender a cultura do índio nem a do europeu como melhores ou piores. São culturas diferentes, com seus próprios valores. Entretanto, sou contra a hegemonia de valores - impor valores de determinada civilização a outra. Não há como provar que a cultura do Ocidente é melhor que a do Oriente, por exemplo. Não acho que a tecnologia e ciência impostas pelo Ocidente sejam motivos para impor a tão famosa globalização. O Oriente pode não ter a teconologia nem a ciência, mas sabem valorizar muito mais o meio ambiente e a natureza do que nós. Os valores precisam se complementar, se ajudarem, e não competir entre si.

Porém, nós, com tanto apelo pela homogeinização da cultura imposta pela globalização, sabemos identificar com clareza as caracteríticas da nossa cultura? Onde está a cultura autêntica do nosso país? No sudeste? no nordeste ou mesmo na Amazônia? Onde estão os verdadeiros brasileiros e quais são seus costumes?

Para responder estes questionamentos, precisamos conhecer o Brasil para definir uma identidade como nação. A cultura indígena, mesmo que destruída, ainda tenta sobreviver. Mas, com a vinda de outros povos, outras novas manifestações do povo brasileiro começaram a surgir. Nossa cultura é variada, rica. É preciso conhecer a diversidade, os hábitos típicos, tradicionais, de raiz. Precisamos defender nossa cultura como patrimônio, a qual ainda tenta sobreviver e mater seus laços originais, num mundo cada vez mais homôgeneo pela Coca-Cola e Mc'Donalds.

Sunday, March 18, 2007

Mídia e comunidade


"É preciso fortalecer os meios de comunicação alternativos e as cooperativas de jornalistas. Agora sou mandatário, com um conjunto da sociedade brasileira que se reúne aqui no Ceará, e eu vou participar desse debate. Quando a gente discute democratização dos meios de comunicação, os que têm o monopólio disso vão sempre inventar que isso é autoritário, vão sempre querer desqualificar que isso é controle. Não. É preciso incentivar
dramaticamente os meios de comunicação alternativos, fortalecer cooperativa de jornalistas, financiar e, nisso, conceder canais de televisão"

Ciro Gomes, deputado federal (PSB)


Quantas oportunidades e possibilidades que os meios de comunicação, se estivessem livres da mediocricidade do marketing comercial, teriam no campo comunitário, cultural e educativo. Principalmente veículos como rádio e televisão, meio públicos e mais acessíveis a analfabetos, por exemplo. A questão de a mídia insistir em ser produto à venda é um grande obstáculo para a democracia.

Porém, o buraco é bem mais lá embaixo. Além do caráter comercial, o sistema de radiodifusão público dispõe de grande controle por grupos minoritários., que detém grande parte das concessões públicas. São partidos políticos, igrejas e famílias com grande poder político e econômico (como a família Sarney) que formam o "coronelismo midíatico" e comandam emissorasde rádio e TV. Isso quer dizer o quê? Que o conteúdo de grande parte desses canais que você ouve e assiste são formulados por pensamentos que se adequam a certas opiniões e interesses desses grupos.

Para citar exemplos, o PMDB (cruz credo!) é campeão disparado de parlamentares detentores de concessão: são 12 deputados estaduais, 13 federais e sete senadores. Logo atrás, vêm o PFL (coisa feia da mamãe) e o PSDB (livrai-me Senhor), com 12 e oito estaduais, nove e dez federais e nove e seis senadores, respectivamente.

No campo religioso, podemos citar a Igreja Universal como detentora da Rede Record de televisão. No dia 21 de fevereiro, foi noticiada a venda das Rádios Guaíba AM, FM e da TV Guaíba, da Empresa Jornalística Caldas Jr., para a Igreja Universal. Essa venda se traduz em redução dos custos, o que significa empobrecer ao máximo a oferta de conteúdo regional, como lembra Celso Schröder, coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas. Ele teme que a Igreja Universal imponha o seu "pensamento único" nas transmissões. Esses controles dificultam e muito a proliferação de rádios e televisões mais democráticas e educativas, livres de interesses políticos e econômicos. Mídia comunitária é sinônimo de serviço de utilidade pública, tem função educativa e combate a um único modelo hegemônico de mídias audiovisuais.

Como podemos perceber, tudo corre ao contrário da democracia. Enquanto empresas cada vez mais tem a sua voz multiplicada, as emissoras locais, como as Rádios e TVs Comunitárias continuam sofrendo com a repressão. Uma matéria do Fantástico, a pouco tempo, reforçou a ignorância do público ao chamar de "rádios piratas" os canais comunitários de rádio.

O termo rádio pirata surgiu na ditadura, quando os militares queriam calar a voz da população e censurar todos os programas de radio e TV. Assim, alguns intelectuais, estudantes montavam rádios clandestinas para que a população escutasse certas verdades e lutassem pela democracia. E quem se beneficiou das rádios pitaras na época foi o povo brasileiro. A rádio "pirata" foi um excelente instrumento contra a ditadura, porque as emissoras de rádio e TV da época apoiavam os militares e graças à luta das rádios comunitárias elas existem hoje e é uma pena que não são reconhecidas devidamente.

"Através do rádio, por exemplo, podemos fornecer educação gratuita, de baixo custo e de qualidade. E isso pode chegar em zonas rurais nas quais a educação é precoce"


As rádios comunitárias continuam regidas por uma lei segregacionista. A atividade permanece reprimida embora de forma gritantemente assimétrica em relação a dezenas de concessionários da radiodifusão comercial que há anos funcionam precariamente, sem a renovação de suas outorgas. Ou seja, grande parte da mídia comercial fere às leis e códigos civis e não são reprimidas; já as rádios e Tvs comunitárias que têm compromisso com a lei de serviço à comunidade, sofrem repressão constante da Anatel e da Polícia Federal. São emissoras comunitárias que já existiam e prestavam serviço público de qualidade às suas comunidades antes da Lei 9612/98; que desde então tentam se legalizar. Têm seu trabalho reconhecido – e até premiado – por instituições públicas brasileiras e internacionais.

Enquanto isso, estima-se que cerca de 60% das quase 4.000 rádios comunitárias legalizadas são controladas por entidades que fazem proselitismo político e/ou religioso, afrontando o interesse público, e mais de 13 mil processos de novas outorgas aguardam julgamento no Ministério das Comunicações. As promessas democratizadoras da digitalização da radiodifusão alimentadas pelo decreto 4901/2003, que criou o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) – e tinha como objetivos, dentre outros, a democratização da informação, a promoção da diversidade cultural, o desenvolvimento da indústria e tecnologia nacionais, a inclusão social e a participação da sociedade civil – foram diluídas na escolha do padrão tecnológico ISDB japonês, que contraria toda essa promoção social e cultural. Hoje, o próprio Ministério Público Federal move ação na Justiça contra essa hegemonia do padrão japonês.

A mídia independente se associa a pluralidade de opiniões e a horizontalidade de opiniões e informações. O rádio, que possibilita baixo custo e programações diversificadas, exerce uma maior incidência na vida diária das pessoas, tanto em zonas urbanas quanto rurais. Vejamos: devido à facilidade de acesso, à ampla cobertura e à flexibilidade, o rádio oferece inúmeras possibilidades para a educação à distância, no desenvolvimento de programas de educação formal e não formal. Olha só que preciosidade de possibilidadedes criativas de crescimento educacional temos num veículo como o rádio. Podemos fornecer educação gratuita, de baixo custo e de qualidade. E isso pode chegar em zonas rurais nas quais a educação é precoce.

"A mídia independente se associa a pluralidade de opiniões e a horizontalidade de opiniões e informações"

Porém, a mídia comercial se opõe ser parceira da educação e também é obstáculo para o crescimento da mídia comunitária. Se queremos um Brasil mais igual, precisamos diminuir as diferenças de acesso à educação das classes mais altas em relação às mais baixas. O problema é que, como a mídia comercial é controlada por classes altas, e os interesses destas são de manter as classes mais baixas sobre desamparo cultural, tecnológico e educacional, a progressão no campo de mídias comunitárias será bem difícil. Por isso, em meu ponto de vista, as mídias comercias precisam, através da lei, perder o seu caráter de concessão para se tornar, realmente, do público, regida pelo público e por pessoas que têm como objetivo fazer uma mídia voltada para todas as classes sociais, sem exceção.

Hoje, o conteúdo transmitido pela mídia apenas reforça o ideal de massa consumidora, burra, despolitizada. Se queremos uma mídia mais justa... vamos começar a defender a democratização das mídias, as rádios e Tvs comunitárias que lutam arduamente pelo seu reconhecimento e legalização! FORA HÉLIO COSTA DO MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES!!!!!!!!


Leia mais! http://www.frenteradiotvdigitaldemocratica.org/

Sunday, March 11, 2007

O pop é pobre?


LEGENDA FOTO: o cantor de música pop: uma boca muito grande e uma cabeça muito pequena.





Confesso que copiei o título do programa da MTV, "Tribunal de Pequenas Causas Musicais". Mas não poderia ser outro, já que o título resume o que quero expressar. Um debate. Uma resenha crítica, que analise esse fenômeno do pop. E, claro, que as indagações aqui nos façam refletir sobre esse estilo musical que mistura cultura, história, política e representa muito bem o que passa e o que é a sociedade hoje.
Bem, falando de pop, vou especificá-lo no post: música pop. A cultura pop, sendo que pop quer dizer popular, não está só na música, mas no cinema, no livro, na televisão, no jogo de vídeo-game. msa aqui falerei da música pop, que pode ser útil em outras vertentes do popular.
A música pop é uma ferramenta para se entender o mundo que nos cerca. Ela reflete a sociedade de sua época. Não são apenas melodias e idéias. A crítica deve (ria) estar atenta a isso.

Primeiramente, vamos delimitar a origem da cultura popular. Ela veio de termos " pop art" ou "popular art". O pop art foi movimento que se iniciou na Ingleterra por volta dos anos 50 e não siginfica uma arte feita pelo povo, como muitos pensam, e sim, feita e produzida para o consumo de massa.

Por que discutir isso? Bem, a música pop, hoje, está em qualquer lugar e influencia a vida de muitas pessoas. Música pop não é só da Britney Spears, é o sertanejo do cantor Daniel, o rock nacional do Skank, o axé do Babado Novo e por aí vai.

Queria discutir esse tema pois a música pop representa uma época em que as perdas de valores e identidade do público, o vício consumista e a veneração da "vida feliz" estão acontecendo cotidianamente. E a música pop dá voz a esse momento social.

O pop é uma variante da publicidade, consumismo desenfreado. Música tem a ver com poder, pois passa mensagens, mostra os sentimentos e até mesmo conscientiza pessoas sobre problemas sociais, além de formar opinião. A música é o código universal e o elo entre todos os grupos sociais, crenças, raças e religiões. Deve ser um trabalho artístico, muito bem elaborado. E um trabalho artístico de qualidade representa conteúdo, informação, conhecimento, serviço do bem comum e do saber ao público. Se música é tudo isso, a música pop encarrega-se de fazer esse papel? E aí que está o problema. A música pop é vazia em conteúdo, é um culto industrializado de banalidades. Os itens culturais que requerem grande experiência, treino e reflexão dificilmente são para o consumo popular.

A cultura pop, além de surgir na Inglaterra, surge no momento em que o modelo tecno-capitalista começa a criar estratégias para maximizar seus lucros. Ou seja, quanto maior for a admissão de um produto cultural pela grande massa, melhor ele é, do ponto de vista lucrativo e mercadológico. O produto "bom", nesse sentido, precisa enfatizar itens que agradem a gregos e troianos, para atingir a padronização dos gostos. Ou seja, todo mundo gosta de batata-frita. Mas será que a batata-frita é boa para a saúde? A batata-frita banaliza a saúde, e a música pop? Banaliza e retarda nossa consciência cultural. Pop é desnutrição para a mente.

"Lazer e entretenimento, podem, sim, estar ligados à educação"


Então, ao "apreciarmos" a música pop, será que a mesma não tem apenas o fútil desejo de nos consumir? Já dizia um professor meu - "não é você que consome. Os produtos que consomem você". Se pararmos pra pensar que toda essa indústria que nos solta músicas pop são, na verdade, formas implícitas de lucro, será que vale a pena deixar se envolver por essa indústria da "filosofia do agradável" e do sensacionalismo?

O pop, no sentido geral, faz a propaganda da vida feliz. Dificilmente uma música pop retrata algum tema social ou relevante para as pessoas. Todas tratam superficialmente de temas como amor, ódio, sexo, diversão. O mundo é mil maravilhas para o pop. Esse estilo músical inibe a população de reivindicar os direitos e discutir política através da música. Ora. Será que o lazer precisa estar dentro dessa ótica educativa e política? Sim. O lazer não precisa estar ligado ao vazio moral. O lazer, deve sim, se apoiar em objetivos educacionais, por que não? Esse pensamento de que o lazer precisa ser um entretenimento evasivo e relaxante é argumento muito mal feito dos detentores da indústria cultural. Claro, assim, pra eles, fica fácil fazer um produto porcaria, de fácil assimilação, ganhar milhões e "divertir" o povo, como se música fosse circo.

Mas peraí. A crítica deve contextualizar com o que vive a sociedade. Como eu disse no início, a perda de valores caracteriza hoje nossa sociedade, de uma maneira global. E por quê? Por causa do desencantamento dos povos com a política, com o modo de viver em geral. E as pessoas, dentro desse desânimo cotidiano precisam extravasar suas magoás. E a música pop serve de analgésico. Serve para uma amor mal entendido, pra relaxar as 8 ou 10 horas por dia trabalhadas sacrificadamente. E, ao mesmo, tempo, afasta as pessoas de uma tomada de consciência. A tomada de consciência de que a música pop é produzida por uma indústria que tenta administrar nossos gostos e hábitos para dar segmento a padrões de consumo. E claro. Nos tornar mais idiotas e medíocres.

SIM, o pop É POBRE. Os modelos musicais se esvaziam cada vez mais. O rock, que na época de seu surgimento foi feito para evidenciar as lutas políticas e o descontentamento do povo, hoje é mais um modelo de "pagode disfarçado", que repete inúmeras vezes a mesma ladainha. O rap, que surge na voz dos excluídos, hoje serve cada vez mais para incentivar a violência. O sertanejo, que insiste em disvincular suas raízes de músicas que contavam pequenas histórias do sertão e do povo humilde, para cantar a dor de corno. O funk, que incentiva a sexualidade precoce e desrespeita comportamentos morais. A música romântica, que deixou de ser poesia para virar baixaria. A mulher, na música, é vista como objeto de exploração sexual. O homem, um animal. A música pop xinga, humilha, banaliza. E o povo compra, assiste, se subordina.

As pessoas realmente perdem sua entidade e se tornam objetos de fácil manipulação. Somos obrigados a dançar Bonde do Tigrão, gritar com Avirl Lavigne, chorar com Zezé Di Camargo e Luciano,assim como Sandy e Júnior. Música sem criatividade, sem informação. E depois não adianta reclamar muito que a educação anda ruim no país. Como educar com uma série de "inimigos" ao saber e ao conhecimento? A criança e o adolescente saem da escola com uma visão de mundo que contradiz o que é valorizado be feito lá fora. "- Estuda meu filho, pra você um dia ficar rico", diz o pai ao filho. Mas o filho responde: "- Pai, isso é o que a minha professora diz. Mas nem a Carla Perez e a Ivete Sangalo precisaram estudar pra ficarem ricas".

E aí? Essa contradição cultural faz com que, cada vez mais, nos percamos. Porque os objetivos educacionais e culturais distanciam-se do que o modelo político economico prega: consumo, lazer, lucro, consumo, lazer, lucro.


"Na música pop, prazer, imagem e beleza se sobrepõem ao conteúdo, informação e transformação"


Eu não vou dizer que não escuto música pop. Sim, escuto. Porque também estou dentro dessa sociedade desacreditada, e sou uma pessoa que, francamente, me deixo seduzir pela propaganda de vida feliz cosntituída pelo pop. Mas tenho consciência de que a música pop é usada para manter o domínio elitista econômico sobre a massa. Ouvindo bastante música da Kelly Key, quem vai crescer e mudar de vida? Ninguém. E é assim que o capitalismo "selvagem" quer. Manter alguns privelegiados no topo do poder e controle e uma grande massa alienada e manipulada por esses privilegiados.

Não acho a Ivete Sangalo uma merda, e nem acho que partir de agora temos que começar a ouvir somente Bethoveen. Não é assim. Mas as pessoas precisam começar a valorizar menos a cultura massiva, pra dar espaço para o que presta entrar em cena. E descobrir prazer nisso. Essa mentalidade de que o que vale na vida é curtição de produtos vazis não é verdade. Ouvir Bethoveen pode trazer uma prazer muito melhor e maior do que ouvir "Abalou". Porque quem ouve "Abalou" continua sendo a mesma pessoa. Quem ouve Bethoveen, ou mesmo Led Zeppelin, Jimi Hendrix, um jazz, e entende seu significado, passa por uma transformação. A maturidade cresce, a tomada de consciência também. E isso é muito bom. É como tomar um banho e tirar a sujeira do corpo. E nos sentimos bem melhores. A mudança é pra vida toda. "Abalou" é uma sensção efêmera, imediata. Você não sentirá mudança.

Por isso, eu acho que a valorização da cena artística-musical deve começar a ser questionada nesse sentido. A música deve trazer conhecimento, transformação, nos tornar pessoas moralmente e eticamente melhores, e não piores. A música pop tem regredido as pessoas nesse sentido. O Charlie Bronw Jr. só serviu para deixar jovens mais violentos e respondões; o techno incentiva o uso de drogas em danceterias; o funk eu não preciso dizer mais nada, o pagode serviu pra promover o bumbum da Carla Perez e as carinhas bonitas (por que será que o mais bonito da banda de pagode é o vocalista????)

Que engraçado. Muita coisa evolui no nosso mundo, como a medicina. Mas a música tem um cronograma histórico de regressão. Está na hora da sociedade começar a redefinir valores e se encontrar. Começar a usar a música como instrumento criativo de expressão. Somos capazes, porque não somos receptores passivos. Temos o poder de responder ao que a indústria cultural impõe. Só assim, podemos dar as mãos para a educação e construir um consumo e lazer construtivos e críticos, no sentido de nos tornarmos pessoa melhores.











.... essa é a sensação de vazio do pop....
Quer ver exemplos de músicas dedicadas ao consumo popular mas que despertam senso crítico e passam informações?
Acesse as músicas - "Carta aos missionários" e "Múmias" - do grupo BIQUINI CAVADÃO.